domingo, janeiro 22, 2006

Num Momento / In a moment

De um esforço de Eternidade resulta o corromper da Essência.

From an effort of Eternity comes the corruption of Essence

3 comentários:

feanarth disse...

Acho que compreendo o que queres dizer mas acho que a escolha de palavras tão carregadas de significado acaba por trair o sentido da frase: "eternidade" é um conceito ilusório inventado para se opor à transitoriedade que nos caracteriza e explorado na obsessão ocidental pela morte e, de facto, um esforço nesse sentido regista-se na ilusão, por oposição ao real, no entanto, a escolha de "essência" para representar a realidade, regista-se na hiperrealidade baudrillardiana (a essência do real, algo mais real que ele próprio), portanto também na ilusão. De uma maneira mais simplista, podia dizer-se que a tentativa de negar a nossa transitoriedade é uma ilusão que nos impede de viver o real ou o medo da morte impede-nos de viver.

Bruffin disse...

Ao escrever meramente a minha conclusão, ao escrever essa conclusão numa única frase e com uma escolha de palavras tão "abrangente" (só mesmo para não as tratar pela dubiedade que merecem), arrisquei-me a ser mal interpretado e de pegarem da minha frase, na minha conclusão, e fazerem-na passar por um processo bem diferente do qual foi a sua génese. À parte de palavras caras espremidas da minha eloquência vou tentar explicar o que realmente queria transmitir. Num esforço de manter algo presente para sempre em nós, mantê-lo na mesma eternidade que para alguns é ilusória e que para outros é evidente, ora, nesse mesmo esforço, perde-se, e perde-se exactamente por corromper, por desvirtuar aquilo que é a sua definição, aquilo que o faz ser o que é, e isso para mim é a essência. Exemplificando, ao tirar uma foto de um pôr-do-sol, estamos a tentar congelar aquele momento que é vivido e guardá-lo, o que acontece é que ao tirar a foto daquele pôr-do-sol estamos a privar-nos de o viver e o que congelamos é um imagem de algo que nunca chegamos a viver. Aquilo que se quer guardar nunca chegou sequer a existir pois fez-se um esforço no sentido de o tornar eterno.

feanarth disse...

O exemplo da máquina é curioso: há, de facto, uma cada vez maior mediatização do real pela tecnologia. Esta mediatização resulta de, e reforça, uma descrença no humano (temporal e efémero) e uma crença absoluta na tecnologia e no seu registo (persistente, como o provam os monumentos do passado e as fotografias dos nossos bisavós, que enchem caixas, cheias de pó, guardadas em gavetas que raramente abrimos, de gente morta).

Esta mediatização chega a um ponto em que a não-existência de um registo técnológico quase que nega a experiência: há dias alguém que conheço chegou de uma viagem a Londres sem fotografias ao que alguém logo respondeu: "Não tiraste fotografias?! Estás é a contar histórias: aposto que tu nem sequer estiveste em Londres!" (será por isso que as pessoas tanto gostam de tirar fotografias diantes dos monumentos que visitam? Como provas?).

A preocupação com o registo técnico de determinado momento (como tirar fotografias) afasta-nos dele, mediatizando a situação que assim deixa um resíduo, mas impedindo de a vivermos directamente. Melhor do que eu, alguém dizia que a fotografia é a prova da impossibilidade do real.

P.S.: (já sei que vais ficar chateado, mas...) acho que confundes o eloquente com o prolixo, como quem confunde o elegante com o ornamento :P