Listening / A ouvir: Grace Jones - La Vie En Rose (Extended)
Much to my surprise, the other day I read that a new genius painter had been discovered in New York… and that she was only 4 years old! I know that when we talk about modern painting the usual reaction is to say that a 4-year-old could have done it but in this case this is too literal.
For a long time now I’ve been trying to understand modern art in all its aspects (especially art after the 60’s) with varying degrees of success. I can now understand that it is possible to defend a work that seem childish by analysing its historical context (either the artist’s or art’s itself) or by focusing on its technical or aesthetic components. “Masterpieces” are then the ones that reveal themselves more strongly in these three points and any work that’s based on just one of them is destined to be forgotten soon (no matter how much the art-market builds it).
A 4-year-old child isn’t able to inscribe her work in an historical or technical perspective. What makes her a “genius”? After researching the subject, I’ve discovered the names of other children that have been considered “geniuses” this past years, dubbed the next Pollock or the next Georgia O’Keefe. A pattern became evident: many of these children are found in the U.S.A., better still, by the North-American art-market, around which seem to bee avid collectors eager to get a painting from the next big thing. I should also add that these “prodigies” have a short life span on the market, going back after a few years to the anonymity of the many would-be-painters that strive all their lives to be recognized.
Many were the times when, in all my cynicism, I’ve said that art was what the market recognized as such, but more than a cynic I’m a someone who has been disillusioned many times and I still believe from time to time that things could be different…I guess that this is not the case. No question that Marla’s paintings are amazing for her age but I still doubt that they are masterpieces and doubt even more that they are worth the values they’re reaching. I imagine the tragedy in a few years when she learns how to draw: if she draws a figure with three fingers in one hand and six on the other will it be considered normal or artistic freedom?
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Qual não foi a minha surpresa no outro dia ao ler que foi descoberto em Nova Iorque um novo génio da pintura... e que tinha quatro anos! Tudo bem que quando se fala em pintura moderna muitas pessoas reagem sempre dizendo que podia ser feito por uma criança de quatro anos mas este caso é demasiado literal.
Há muitos anos que procuro compreender a arte moderna em todas as suas facetas (principalmente a arte depois dos anos 60) com grau relativo de sucesso. Consigo agora perceber que é possível defender uma obra que à partida parece infantil inserindo-a num contexto histórico (do artista e da arte em si) ou focando-nos nos seus aspectos técnicos ou estéticos. As “obras-primas” são então as que se mostram mais marcantes nestes três pontos de vista e qualquer obra que se foque só sobre um deles está destinado ao esquecimento prematuro (mesmo que seja muito empolada pelo mercado artístico).
Uma criança de quatro anos não está habilitada a inscrever as suas obras nem numa perspectiva histórica nem numa técnica. O que faz então este “génio”? Com alguma investigação, fui descobrindo alguns nomes de crianças que de há uns anos para cá têm sido nomeadas como “génios” na pintura, como o próximo Pollock ou a próxima Georgia O’Keefe. Um padrão começou logo a tornar-se evidente: muitas destas crianças são descobertas nos E.U.A., ou melhor, pelo mercado norte-americano, à volta do qual parece haver uma série de coleccionadores ávidos por apanhar um quadro do próximo grande nome da pintura. Diga-se também que estas crianças “prodígio” têm um tempo de vida no mercado muito curto, sendo reabsorvidas pela anonimidade dos muitos pintores que se esforçam por ser conhecidos toda a vida passado algum tempo.
Muitas foram as vezes que, no meu cinismo, disse que arte era tudo o que o mercado reconhecesse como tal, mas sou mais um desiludido do que um cínico e por vezes ainda acredito que as coisas possam funcionar de maneira diferente... Acho que, neste caso, não. Não há dúvida que os quadros da Marla são impressionantes para a idade que ela tem, mas duvido que possuam as características de uma obra-prima e ainda mais que seja justificado o preço que andam a atingir no mercado. Imagino a tragédia que vai ser quando começar a aprender desenhar: se desenhar personagens com três dedos numa mão e seis noutra será considerado normal ou liberdade artística?
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