quinta-feira, novembro 01, 2007

Anti-Social Networking

Sempre senti algum descontentamento com os sites de social networking como o hi5, mas nunca o consegui formalizar. Esta sensação fez com que, há já alguns anos, tenha apagado todas as contas deste tipo (pelo menos as que me lembrava, já que a maioria das contas que abri, fi-lo em resposta ao convite de alguém e já nem sem bem quantas foram). Há algumas semanas estava a ler um livro e deparei com uma frase do William James que sugere, em 1890, que uma pessoa tem tantos egos-sociais quantos indivíduos conhece ("a man has as many social selves as there are individuals who recognize him and carry an image of him in their mind"). Fez-se luz. De facto, o que sempre me incomodou foi o nível de exposição a pessoas diferentes, de contextos diferentes e a classificação de todos como "amigos". Incomodava-me que aquela pessoa que mal conheço e com quem mal falo no emprego tenha uma visão de como foram as minhas ferias ou os excessos do fim-de-semana passado, apesar de querer partilhar essas recordações com a família ou amigos. Ou que aquela pessoa que me foi apresentada na outra noite e com quem não me dei muito bem (sou, já me disseram varias vezes, arrogante e intolerante), mas que sentiu que, depois disso, sou o seu melhor amigo e que me tem de incluir no seu grupo de amigos de um destes sites.

Acho que a solução seriam perfis ou níveis: haveria um nível muito básico de apresentação (não muito mais do que foto e nome) e a esse nível poderiam ser atribuídos um ou vários perfis. Já sei que muitos destes sites permitem definir algumas zonas como "privadas", mas isso quer dizer que todos os "amigos" as conseguem ver. Pegando no exemplo das fotografias dos excessos do fim-de-semana, podia ter interesse em partilha-las com alguns amigos, mas que a família não a visse. Imaginando que vou a uma reunião de determinado grupo (uma LAN ou algo semelhante) essas fotos poderiam ser completamente indiferentes às pessoas que não participaram nela.
O que proponho é a criação deste níveis, como "família", "emprego", "amigo", "conhecido", e a possibilidade de os combinar: um amigo no emprego teria esses dois perfis, um primo distante podia ser só "família", mas um mais próximo podia também ser "amigo", com acessos a diferentes informações. O que proponho é a esquizofrenizaçao e hierarquização dos nossos egos virtuais e das nossas relações, à semelhança do que acontece na realidade. Admitir que somos pessoas diferentes em contextos diferentes e até explora-lo... parece-me que seria um exercício melhor de auto-conhecimento e definição do que criar personas unidimensionais com as quais nem sempre nos identificamos.

2 comentários:

Mooviz disse...

ou então faz como eu, filtra o que lá metes, recusa "amizades" e goza com aquilo tudo :))))

Mooviz disse...

é engraçado porque nesta notícia do Boston Globe fala-se mesmo nisso.

A notícia saiu também no último Courrier International.

http://www.boston.com/jobs/news/articles/2008/04/16/facebooks_squirmy_chapter/